sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

«Crónica - Sociedade/Política» - "Deconstruir"

Deconstruir
As redes informais e o mito da meritocracia

Tem havido ao longo do tempo muitas designações para o mesmo fenómeno: tachos, compadrios, clientelismo ,redes de conhecimentos informais, redes de acesso indirecto, cunhas. São um fenómeno enraizado na nossa sociedade, de herança salazarista e corporativista, que ao longo dos anos têm minado com incompetência o espaço privado e público. Caracterizam-se, como todos sabemos, por legitimar um cargo/privilegio/direito de uma forma irregular e injusta por parte de quem está numa situação de poder. Esta prática, que é tudo menos inocente, mina a já por si frágil sociedade, o mercado, o parlamentarismo, a função pública, todas estas dimensões societais. Considero que este fenómeno, considerado por vezes e erroneamente como inocente, é extremamente nocivo, entre outros por duas razões.
Competência - Quando um indivíduo é preterido por outro que, embora possua menores qualificações, tenha um capital social mais elevado que lhe permitiu o acesso ao lugar que por “mérito” não acedeu, há uma quebra na engrenagem, há um potencial incompetente no lugar que não provou merecer. Esta factor multiplicado leva a tenhamos serviço, uma classe política, e empresas a empregarem não os mais competentes, mas os mais “hábeis”, os que mais se adequam aos terrenos pantanosos da compadrio. Não é por acaso que temos uma classe política vergonhosa, pois ela e constituída por quem melhor se adequa ao carreirismo político, todo um processo que todos os “políticos profissionais”, como o sr socrates, sabem ser preciso atravessar. As juventudes partidárias, cargos regionais, todo esse processo. Na função publica, assim como nas empresas, temos necessariamente os serviços afectados, a produtividade a motivação de quem sabe que não se é recompensado pelo talento, mas por quem se conhece.
Meritocracia - De uma modo muito sintético, podemos afirmar que a base da sociedade em que vivemos é a meritocracia, a expectativa de determinado(a) cidadão(a) ser recompensado pelas capacidades e conhecimento que adquire ao longo da vida. Este conceito é falacioso, pois as expectativas de vida não se tendem a equalizar, nem sequer temos todos o mesmo ponto de partida, sendo que uns claramente nascem em posição de se afirmar mais no mercado de trabalho e no espaço publico do que outros (sim, que os filhos dos médicos não são naturalmente mais aptos a seguirem a carreira do pai, nem foram abençoados com tal dom). A cunha surge aqui como coveira final deste mito. Que tipo de legitimidade tem um sistema em que um indivíduo, mesmo que consiga ultrapassar todas as barreiras sociais para se afirmar profissionalmente, esbarra na ausência de conhecimentos do meio? A cunha por si só destroi toda a esperança de igualdade de oportunidades. Premeia o facilitismo e a incompetência. Premeia as “boas” famílias , torna quase impossível a escalada de uma classe baixa para uma classe média, favorece quem já tem muito para continuar a ter mais. Era assim no bolorento corporativismo salazarista, e não mudou a sua génese até agora. Antes, como agora, basta ter o nome de família indicado.

Autor: Alexandre Fonseca (Alex)

3 comentários:

José Carlos Gomes disse...

Justiça Social depende da produção de riqueza, a produção de riqueza depende de empresas competitivas, as empresas competitivas dependem da a atracção do talento e a atracção do talento depende de uma cultura de mérito.

O clima crescente de crispação entre o sector público (acusado de esbanjar os recursos) e o sector privado (acusado de fuga aos impostos) é responsável do estado natural em que nos encontramos mas as responsabilidades maiores são daqueles, que tem de distribuir os recursos que os contribuintes pagam, de forma equitativa, justa e com sentido de estado.

Quem governar desta forma está a prestar um grande serviço a qualquer comunidade e não somente, apesar de importante, mostrar uma "sociedade de cimento" porque o Sol quando nasce é para todos. Também se passa em Moimenta, uma falta de valores. Quem estiver no poder não deve ligar ao caciquismo, despotismo, compadrio. Se o fizer presta um grande serviço ao concelho. Gostava de ver nos programas políticos um código de ética.

Não me alongo mais para não ferir susceptibilidades.
O corporativismo Salazarista, como refere muito bem o Alexandre, que predomina o pensamento actual mostra que existem pessoas que não são tão democratas assim, ou melhor, as pessoas que conduzem os nossos destinos partilham esta máxima: O MERCADO FUNCIONA MAS É O ESTADO QUE PAGA.

João PM Dias disse...

Bem-vindo Alex!

Grande Crónica. Gostei!

"(...)as empresas competitivas dependem da a atracção do talento e a atracção do talento depende de uma cultura de mérito."

O problema é que no nosso meio não existem empresas competitivas.

abraço,
joaomd

Gonçalo Coelho disse...

Pois é, pois é, pois é!!!!!!
Infelizmente é isto que temos!!!
Muito bom post!!!!
Abraço