segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Praça Pública - Semanal

O segundo em que Sócrates abanou - «Henrique Monteiro»

Do meu ponto de vista, houve um momento em que aquele muro de argumentação em que Sócrates se transforma sempre que dá uma entrevista abriu uma brecha. Um brecha rapidamente colmatada, mas uma brecha.
José Sócrates é uma máquina de discutir; consegue argumentar em todas as áreas. Fazendo-se ora de vítima, ora de líder, ora de analista, actua com desenvoltura no palco televisivo desempenhando todos os papéis. Salvo erro - e quem viu esta última entrevista testemunha-o - é o primeiro chefe de Governo que, quando entrevistado, também faz perguntas (por exemplo, perguntou a um dos entrevistadores se ele era contra a auto-estrada para Bragança).
Constrói à sua volta um sólido muro, simultaneamente defensivo e ofensivo, que é difícil contornar e muito menos destruir. Foi assim na entrevista da passada segunda-feira. Sócrates, que tem habilidade para, durante uns três minutos, colocar como hipótese não ser escolhido como candidato do PS a primeiro-ministro, sabe gerir o tempo como ninguém. É um mestre nessa arte e há que tirar-lhe o chapéu. A cada pergunta incómoda, refugia-se dentro das paredes sólidas do muro e fala longamente sobre nada. Daí a longa explicação sobre a energia eólica, fotovoltaica e hídrica (com o que toda a gente concorda e apoia o Governo) a propósito da dívida externa. E daí também a fuga a sete pés do tema baixa de impostos, que o primeiro-ministro não quer fazer, mas também não quer negar.
Porém, houve um breve momento em que esta estratégia não funcionou. Foi quando o jornalista José Gomes Ferreira lhe mostrou um gráfico retirado do próprio Orçamento do Estado. Ali estavam duas linhas: numa, o que o Estado em 2008 tinha previsto pagar futuramente em parcerias público-privadas nas Obras Públicas; noutra, aquilo que o Estado prevê, agora em 2009.
Ambas as linhas se prolongam até 2038 ("no longo prazo estaremos todos mortos", dizia Keynes), mas enquanto a primeira tinha o seu pico em 2010, mantendo-se até 2018 e depois descendo acentuadamente, a segunda tem o seu pico em 2015 (já depois da próxima legislatura) mantém-se assim ainda uns anos e passa o essencial dos pagamentos para um futuro mais distante.
Dir-se-á que Sócrates deixou de fazer política para os nossos filhos e passou a fazê-la para os nossos netos, apresentando a factura aos governantes que lhe hão-de suceder, lá para meio do século XXI.
É certo que as grandes obras são transgeracionais, mas manda a prudência que sejam devidamente discutidas, assumidas por consenso e não fruto de um mero voluntarismo momentâneo que, por mero acaso, ocorre em ano eleitoral.
A verdade é que o primeiro-ministro, perante aqueles factos tão concretos, apenas conseguiu responder qualquer coisa como "irresponsável seria não fazer as obras". Talvez seja verdade...
Não sei se as minhas netas, lá para meados do século, pensarão o mesmo. Mas elas, é claro, por ora não votam. Fonte: EXPRESSO.PT

1 comentário:

Unknown disse...

Gato Fedorento
Só queria aqui anunciar faxabor... quisto aqui... quisto aqui... é uma cambada de gatunos... é uma cambada de ladrões... e é uma cambada de xupistas...
São as razões da crise.