terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

«Crónica-Arqueologia» - Epígrafe BALBVS

Em 2003, no âmbito da elaboração da Carta Arqueológica do Concelho de Moimenta da Beira, foi identificada uma epígrafe reaproveitada no pavimento da Capela de Nossa Senhora de Fátima, Granja dos Oleiros (freguesia de Rua).
A inscrição apresenta grandes desgastes e a moldura que a rematava desapareceu quase por completo, permitindo apenas uma leitura hipotética e muito incompleta.
No entanto, através de um método adequado, foi possível ler algumas linhas. Crê-se que seja uma inscrição funerária para memorar um defunto, pois podemos detectar algumas características das epígrafes funerárias romanas.
As inscrições funerárias romanas (as mais completas) contêm os seguintes dados: a invocação aos deuses Manes (divindades a quem, a partir de meados do século I da nossa era, os túmulos passaram a ser consagrados, mediante adequada cerimónia), a identificação do defunto, a idade com que morreu, a identificação da(s) pessoa(s) que erigiu (erigiram) a memória, seguida de F(aciendum) C(uravit ou curaverunt) (mandou ou mandaram fazer) e a fórmula final: «aqui jaz» (H.S.E.) e o voto «que a terra te seja leve!» (S.T.T.L.).

A sua inscrição reza o seguinte:
BALBVS
MANI
FCOLA […]
NN […]N ?
LXX […]
EVS […]
TRI.S ? VO ?


Traduzir-se-á:
AQUI JAZ BALBO,
FILHO DE MANO,


DE 70 ANOS

QUE A TERRA TE SEJA LEVE!

A onomástica e a filiação parecem ser indígenas. O primeiro nome (1.ª linha) estará no nominativo e o segundo (2.ª linha) no genitivo. A 3.ª, 4.ª, 5.ª, 6.ª e 7.ª linhas apresentam problemas de tradução. Na 3.ª linha, crê-se que seja a fórmula F(aciendum) C(uravit ou curaverunt). Na 4.ª e 5.ª linha, supõe-se que seja a idade com que morreu. Na 7.ª linha, crê-se que seja uma das fórmulas finais das inscrições funerárias.
A lápide mede aproximadamente 85 cm de altura e 42 cm de largura. O campo epigráfico tem 70 cm de altura.
A altura das letras varia entre 6/7cm. A altura dos espaços interlineares varia entre 2/3cm.

Numa época marcada pela dominância do audiovisual, é importante que também pelo caminho da investigação histórica e arqueológica se dê importância à escrita dos homens e mulheres de outros tempos e de outras civilizações. Os romanos e outros povos que aqui viveram antes de nós tiveram sentimentos semelhantes aos nossos. Também nasceram, cresceram, conviveram, constituíram família e sonharam.
A epigrafia (ciência que estuda as inscrições em materiais duradouros: pedra, cerâmica, metal, etc.) permite-nos dar esse testemunho.

Autor: José Carlos Santos

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