quinta-feira, 5 de março de 2009

«Crónica-Sociedade»

Poder local: a farsa democrática

De todos as irrealizações da democracia moderna, bem patentes na sociedade portuguesa desigual e destruturada, é no poder local que encontramos um dos cenários mais desastrosos. È generalizada a sensação que os governantes locais não são eleitos apenas para nos servir, mas também para servir os interesses deles e dos seus, isto dito de um modo civilizado, pois quem andar pela rua poderá ouvir definições bem mais objectivas desta classe politica. O poder político é exercido de um modo pessoal e obscuro, quando é o contrário o que se pretende de um cargo público. Segundo Fernando Ruivo, sociólogo que se dedica há vários anos ao observatório do poder local em Coimbra, 82.3% é a percentagem de presidentes de câmara que refere contactos e relações pessoais como principal meio de atingir os seus objectivos (Ruivo, 2000). Este dado, que é só um entre muitos que podem encontrar nesta e noutras obras, demonstra a hipocrisia reinante entre a “verdade” institucionalizada quando se fala de poder local, e a verdade efectiva.

Há uns tempos dizia numa conferência um antigo revolucionário que o erro dele, e de muitos, era achar que pela transição democrática se iriam eventualmente automatizar de forma clara e transparente os procedimentos políticos. Obviamente isso não aconteceu. O carácter clientelista do estado, e a dependência do poder local em relação ao poder central não foi alterada, assim como os procedimentos caciqueiros do poder local. É vê-los, como retratava alguém recentemente no blog, á porta da junta de freguesia a “convencerem” as pessoas a ir votar. Este tipo de manipulação, esta prática de vale tudo demonstra que em Moimenta da Beira, como em muitos outras localidades, democracia é um chavão. As pessoas têm medo de falar, medo de votar, medo de chocar, medo de contrariar. Há interesses e famílias instaladas há muitos anos, cujo domínio político e simbólico não querem perder. Existem estradas que se constroem mais rapidamente que outras, casas que são feitas com licenciamentos recordes, enquanto outras aguardam anos se for preciso.

Numa vila cada vez mais abandonada pelos jovens, a câmara tornou-se uma bóia de salvação e um corpo de controlo. O desespero legítimo de conseguir um ordenado no fim do mês, ou de não ter a sua vida condicionada por algum inimigo no poder condiciona a capacidade crítica. O interesse pessoal é o grande motor das relações políticas, tanto nas relações entre políticos, como entre a sociedade civil e o poder local. Em política quase tudo o que parece é, e diga-se que desde os sacos azuis (os conhecidos), o processo de um antigo engenheiro por desvio de fundos até a enunciada airosa saída do nosso presidente com um cargo na nova região de turismo, tudo tresanda a mentira e aproveitamento político, factores que não abonam nada a confiança nos actores políticos.
Poucos são aqueles que se atrevem a aventurar neste terreno pantanoso. Politico, ao contrário do que afirmam os intelectuais que procuram viver do mito, não é uma profissão nobre, é habilidosa. Não trata de consensos, trata de artimanhas. Olhando para o corpo político dos partidos de Moimenta da Beira, constatamos que quase nada muda. O mesmo candidato do poder, o mesmo candidato da oposição. Será que não existem novos actores políticos com ideias interessantes? Existir existem. Mas poucos querem mergulhar no hediondo mar da política local. Olha nem eu!

Autor: Alexandre Fonseca
Sugestões e criticas são bem-vindas: alexxe@portugalmail.pt

18 comentários:

João PM Dias disse...

Boa tarde,

Só me vem uma expressão à cabeça:

- "ui!!!!!"


Grande crónica.

abraço,
joaomd

Direcção IAC disse...

Grande colega Alexandre Fonseca antes de mais parabéns, mas gostava de fazer algumas perguntas, quais são para si as futuras alternativas para o Futuro da nossa Vila? Seremos nós? Ou realmente haverá sempre as sombras políticas existentes?
Haverá alternativas?

Alex disse...

Sr Silva olá! a alternativa a meu ver passaria por mais cidadania e menos partidarismo. Grupos civicos menos comprometidos e heterogeneos.Penso que o modelo partidario estará um pouco esbatido, seria preciso sangue novo, e com ideias e procedimentos refrescantes. Eu nao sou demagogico, não digo que seja fácil e não conheco planos milagrosos, mas é preciso pensar alternativas quando a insatisfação relativa a governação local é bem patente parece-me.Abraço

Direcção IAC disse...

Mas a um grande problema, será que o poder local aposta no sangue novo? Será que as criticas, muitas delas não bem fomentadas geram frutos? Ou será que todo o que pronunciou no seu comentário só existe no nosso Município ”Câmara”, não existira em outras instituições Publicas?
Um Grande Abraço
ass: João Silva

Alex disse...

Sr SÎlva, como referi no meu comentário, este é um problema do poder local em geral, as estatisticas que referi sao relativas a varios municipios. A mim interessame por motivos obvios falar da nossa camara, dos seus podres, que não sendo unicos(vejamos felgueiras ou Oeiras por exemplo!) merecem ser contestados.Trata-se de reflectir uma sensação(e nao me parece que esteja sozinho nisso) de revolta e insatisfaçao relativamente ao funcionamneto do executivo, e de abrir o debate sobre a entrada de novos actores locais!

Direcção IAC disse...

Eu acho que realmente, o que me está a dizer, e que você e de veras um novo actor politico.
Acho que esta apostilar a si próprio no sentido em que diz, que as alternativas no seu ver "passaria por mais cidadania e menos partidarismo", com o ultimo comentário diz de forma indirecta , que por motivos óbvios, ou seja, motivos de foro partidário, porque podem ser de cânone humano, mas eu acho na minha maneira de ver, e sem criticas destrutivas, acho que há problemas não só na autarquia mas em todo o sistema publico. Quando fala de novos actores locais, isso quer dizer o que? Em concreto?
Mudarmos radicalmente o poder local?
Arranjar novas soluções governamentais? Será que no seu ver isso chega?
Um Abraço
ass: João Silva

ass: João Silva

Alex disse...

Sr Silva, primeiro que tudo nao me estoa "apostelar" e nenhuma maneira, estou a referir a minha opiniao sobre o sistema politico, estou a sugerir uma alternativa: Quer
nomes e alternativa´s?democracia participativa:foruns de cidadania plurais, formados por nucleos heterogeneos da sociedade local,que participariam de modo mais horizontal nas decisoes relativas a autarquia.Esta e uma das alternativas ao poder autarquico, e ha muitas mais .
Se tou a sugerir mudanças radicais?SIM OBVIAMENTE ESTOU. a minha posiçao politica, ainda que nao tenha cor partidaria(integrei o bloco de esquerda 4 anos mas afasteime ha ja 1 ano do partido)é radical, é revolucionaria se quiser.NAso tenho problemas em assumir este posicionamento, tal como nao tenho problemas em critica e atcar directamente o estado das coisas, sem me postular a nada pois muito sinceramente os meus planos de vida nao passam por nada relativa a intervençao politica.Ou será que lhe custa a crer que alguem manifeste a sua opiniao sem segundos interesses?Estará voçe demasiado embrenhado na logica carreirista da politica?
Tudo o que faço é o que me foi pedido:expressar a minha opinião acerca da sociedade local por escrito.Isso faz de mim quando muito, um actor social.Cumprimentos

Gonçalo Coelho disse...

Belo post Alex!!
Sou completamente de acordo cm td que está escrito, aliás acho que retratas mt bem o que de facto acontece.
Caro amigo Silva permita-me que lhe diga, mas sem margens para duvidas acho mesmo que uma das soluções que poderia "salvar a nossa terra" seria a ideia de: "mais cidadania e menos partidarismo", ou será que consegue dizer-me em que é que a nossa terra beneficiou com os paridos? Eu sinceramente nunca vi nada a não ser beneficios estatisticos para proprios partidos!
Ouça estamos no interior esquecido, os partidos têm assuntos mt mais importantes do que Moimenta da Beira.
Por outro lado autarquicamente os partidos não fazem sentido, o que importa são sim pessoas com prespectiva de futuro e trabalhadoras, pois pode não acreditar mas o que o Alex diz relativamente a existirem pessoas com medo de votar é completamente verdade.
Quanto à ideia que o amigo Silva tem relativamente ao actor politico, olhe, infelizmente não me parece que o Alex, neste momento queira ter uma posição de destaque na "politica" de Moimenta da Beira, porque se o quisesse, além de ter todo o direito para isso, ganhava na minha pessoa um adepto.
Espero sinceramente daqui a 14 anos votar numa ideia e não num partido, e já agora pergunto ao amigo Silva se quando vota, vota num partido ou numa ideia? É que quando à eleições vejo tantas bandeiras, carinhos com fotos e essas coisas todas, e depois um pequeno panfleto, mesmo pequenino, onde vem a ideia do candidato.
Então será que o que o Alex diz não tem sentido?
Contudo é apenas a minha ideia!!!
Grande abraço para todos:

Gonçalo Coelho

João PM Dias disse...

Boas,

Concordo contigo Gonçalo!
Também penso que a nível local os partidos não fazem qualquer tipo de sentido.

Em relação à crónica, ela representa tudo o que nós ouvimos, falamos, escrevemos em off. É o que toda a gente pensa, mas que não o diz abertamente.

abraço,
joaomd

Unknown disse...

Eu voto em ideias e não em ideologias

Direcção IAC disse...

Muito bom dia, para responder ao Amigo Gonçalo de uma forma muito breve, eu voto numa ideia e não no partido, mas sou a favor que exista partidos, e que os mesmos “ Criem pessoas” para governar da melhor forma o poder local e nacional. Mas também defendo uma ideologia política, claramente.
Mas outorgo quando tu falas dos panfletos, e muito bem. Mas será que os munícipes querem de algum modo saber o que vem no panfleto? Ou se importam mais por o “grande” o vistoso?
Como sabes temos uma enorme taxa de analfabetismo nível nacional, claramente que muitas das pessoas que votam e porque conhecem a pessoa, ou o símbolo partidário, não concordas com isso? Portanto não podemos mudar a mentalidade das pessoas das pessoas.
Mas uma coisa que gostava de te perguntar, será que a pessoas neste caso actores locais têm foro económico tal para abarcar uma campanha eleitoral como independente? Ou será mais fácil ir por " Independente" e depois pedir uma coligação?
Gonçalo um grande abraço
Ass- João Silva

Unknown disse...

Quem é este silva?
Tal como eu de politica não percebe nada. Nunca vi tanta desgraça num só texto.

Gonçalo Coelho disse...

Caro amigo Silva, todos temos ideias diferentes, como é lógico respeito a sua opinião quando diz que é a favor que existam partidos e que os mesmos criem pessoas para governar da melhor forma o poder local e nacional.
Sabe percebo muito pouco de politica, contudo penso que os partidos não devem "criar pessoas", acho sim que as pessoas se devem informar ao máximo das ideologias existentes, para caminharem em direcção das suas ideias.
Por isto mesmo acho que ainda não tenho formação suficiente para entrar nestes caminhos das ideologias. Contudo a politica autarquica é uma coisa que diz respeito a todos nós que vivemos em Moimenta da Beira, e quer queiramos ou não devido a estarmos em cima do acontecimento é-nos muito mais fácil opinar.
Quando falas da mentalidade dos municipes, sabes Jesus Cristo também não agradou a todos, e não foi por isso que alinhou no jogo dos romanos, por isso não me peças para alinhar numa politica de fachada que tem por objectivo enganar os tais analfabetos que tu falas.
Não alinho na politica do vistoso!
Alinho sim na politica de causas, de valores, naquela que visa a comunidade em geral, naquela que respeita o cidadão de igual modo quer seja analfabeto ou não,alinho numa politica de igualdade de oportunidades, e por isso pouco me importa se à viabilidade economica ou não para se fazerem campanhas, se é do PS, PSD, CDS ou independente, quero é votar em ideias que mais tarde se apliquem na prática.
Poucos seguiram Jesus Cristo, e se existir só mais uma pessoa a pensar da minha maneira (aposto que existem bem mais) já me dou por contente.
Se não és mais forte junta-te a eles?
Amigo Silva não muito obrigado.
Grande abraço:

Gonçalo Coelho

Alex disse...

pois Silva, sabe a questão é que, ao contrário de si, nao creio que os partidos sejam muito competentes na "criação" de pessoas para governar o pais e as pessoas.Penso que são mais habeis em criar carreiras politicas, com os resultados visiveis.

Direcção IAC disse...

Todo nos somos livres de pensar e de opinar, mas uma coisa que realmente e verdade e que as pessoas não se moldam facilmente, tu podes crer que o nosso município e assim.
Infelizmente se denota no nosso município um politica do vistoso, e da insistência, e não das ideias e do respeito. A juventude as vezes não e vista da melhor forma, ou encarada como pessoas validas, e com valor.
Eu concordo com o partidarismo, mas acima de todo que no mesmo haja pessoas validas, que detenham novas ideias em prol do município e do Pais.
Somos jovens certamente com ideias diferenciadas, mas de certeza com o objectivo de melhorar o nosso concelho.
Alex e Gonçalo, já dizia um político Português o seguinte "O futuro de Portugal será o que for a juventude".
Um grande abraço, e acabo com o seguinte, Deus e Deus e não agradou a todos, e nem todos lhe foram fiel em 12 apóstolos.
Ass: João Silva

Antonio Ribeiro disse...

Estamos em boa altura do Alexandre se inscrever numa lista e fazer alguma coisa pela sua terra. De certeza que uma lufada de ar fresco na vida política de Moimenta será muito benvinda. Convites não lhe devem faltar. Só nao me lembro de ter visto certos jovens tão bem falantes em nenhuma organização de solidariedade, voluntariado, clubes, associações culturais. Só se elas funcionarem nos cafés das 22h as 4h, com o despertador para as duas da tarde.

Gonçalo Coelho disse...

Não julgo que a questão, de um jovem sair para os cafés das 22h às 04h tenha alguma coisa a ver com o associativismo ou voluntariado, mas ok é a sua ideia.

Alex disse...

o sr Zé Pedro, a sua retórica moralista dos bares abertos já é conhecida e vulgar, e deixa-me que aproveite para manifestar o meu desagrado por não estarem abertos até as 4, mas apenas até as 2 da manha. A sua conversa é tão retrógrada que a podíamos ouvir na missa ás 11 da manha pelo Sr padre. Acerca de iniciativas, você não me conhece de lado algum para fazer esses juízos de valor, mas mesmo assim responde-lhe.Nesta vila já trabalhei em campanhas autárquicas, já fiz propaganda em legislativas, já pertenci a duas associações, que organizaram concertos (rockdemo)e ferias desportivas e pertenci aos escuteiros (com o consequente voluntariado que vossa excelência propagandeia).Isto nos 19 anos que vivi em Moimenta, pois estou já há alguns anos fora. Já que pediu, aqui tem o "currículo", se quiser envio lhe por email.Cumprimentos