segunda-feira, 16 de março de 2009

Praça Pública - Semanal

Duas imagens da semana /Jose Leite Pereira/

Houve duas imagens que muito me marcaram esta semana. Uma foi a presença da chanceler alemã na televisão, falando aos seus concidadãos poucos minutos depois de ter sido conhecido o massacre escolar em Estugarda. Desta vez morreram 15 pessoas, e a sensação que fica, a sensação que Angela Merkel transmitia é que não há nada a fazer.

Ela disse tudo o que se esperava que uma chanceler dissesse e disse-o com grande dignidade. E nisso reside a grande tristeza, porque impressionava a impotência que perpassava de quanto dizia. O que há a fazer, na Alemanha, nos EUA ou cá, é dar aos jovens uma formação cívica que os eduque para serem solidários. Os nossos filhos precisam de ser treinados para serem competentes mas isso não significa que queiramos que vivam numa constante competição e muito menos ainda que subam empurrando outros para baixo, humilhando-os. O jovem responsável pelo massacre escreveu, de véspera, o suficiente para, se tivesse sido lido, se ter podido travar a tragédia. "Amanhã vão ouvir falar de mim". Ouvimos. Pelos piores motivos.

As sociedades podem optar por proibir os jogos de vídeo violentos, podem castigar mais os jovens que se desviam da norma, podem tornar o ambiente da escola mais repressivo. Podem reprimir, podem proibir, podem castigar. Estarão a tapar o sol com uma peneira. Onde há que intervir é nos valores que se transmitem. Educação cívica - eis um bom nome para uma disciplina que deveria ser obrigatória nas escolas desde o primeiro ano. Entre nós, Mário Soares chegou a propô-lo. Uma boa educação cívica não parará estas tragédias. Mas abrirá caminho a um mundo onde cada vez haja menos pessoas a sentir-se marginalizadas, onde as diferenças sejam respeitadas e onde os jovens saibam desde as primeiras brincadeiras no recreio que ajudar não rima com gozar.

A segunda imagem que me impressionou esta semana foi a de um pai transportando na rua, pela mão, uma cadeira vazia de bebé - um "ovinho". Uma imagem que seria normal se aquele não fosse o pai e aquela não fosse a cadeira onde morreu um bebé, esquecido no interior de um carro, ao sol. Nada, possivelmente, acalmará a tormenta deste pai. Mas é preciso dizer-lhe que sim, é possível que gostasse muito do seu filho e mesmo assim se tivesse esquecido dele. Não é comum. Mas é possível. E oxalá ele consiga encontrar paz para suportar uma tragédia que viverá com ele até ao fim dos seus dias.
Fonte. Jornal de Noticias

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