terça-feira, 7 de abril de 2009

Aquilino Ribeiro _ no Blogue [1]

PRIMEIROS ANOS - VIA SINUOSA NO JARDIM DAS TORMENTAS

Em 1885, nasce Aquilino Ribeiro na aldeia de Carregal de Tabosa, concelho de Sernacelhe. É baptizado na igreja matriz da freguesia de Alhais, concelho de Vila Nova de Paiva. No ano em que Aquilino chega ao mundo, Émile Zola escreve Germinal, Mark Twain publica Huckleberry Finn, Guy de Maupassant, Belami. Por cá, Guerra Junqueiro dá à estampa A Velhice do Padre Eterno, Oliveira Martins publica a sua História da República Romana e Ramalho Ortigão A Holanda. Nascem outros grandes escritores: Sinclair Lewis, D. H. Lawrence, Jules Romain, Ezra Pound... Morre o grande Victor Hugo. Louis Pasteur inocula pela primeira vez o soro contra a raiva. Circula o primeiro automóvel – um ano normal. Em 11 de Março de 1895, passa a residir com os pais, em Soutosa, freguesia da Nave, concelho de Moimenta da Beira. Em 10 de Julho desse mesmo ano, ingressa no colégio jesuíta de Nossa Senhora da Lapa, onde em Agosto faz exame de instrução primária. Em Cinco Réis de Gente e em Uma Luz ao Longe, romanceia reminiscências da sua infância e pré-adolescência. Em 5 de Outubro de 1899, entra no Colégio Roseira (ou do Padre Alfredo), em Lamego. O objectivo é enveredar pela vida sacerdotal (seu pai fora padre). Por isso, em 16 de Junho de 1902 vai para Viseu, para fazer a cadeira de Filosofia, que o habilite à admissão no Seminário de Beja, onde entra em 16 de Outubro desse ano com a intenção de frequentar o Curso de Teologia: «Quando cheguei de Lamego, com os preparatórios feitos, afora filosofia, declarei peremptoriamente em casa que não sentia bossa nenhuma para a carreira eclesiástica. Tinha eu dezasseis anos.» 1 Com estas palavras inicia Aquilino o seu livro de memórias Um Escritor Confessa-se. «Eu entrara crente, crente absoluto, para o Seminário, e sentia, malgré moi, a favor das exuberâncias da minha natureza, que estava a despir a carapaça religiosa, pode dizer-se, com que se nasce e nos tolhe na idade da razão de dar tombo para o desespero e pessimismo», diz mais adiante na mesma obra. De facto, o seu percurso no seminário de Beja, onde frequenta o Curso de Teologia, nem é longo nem termina da melhor maneira - completa o primeiro ano e faz ainda uma parte do segundo. Porém, vai pondo em causa dogmas, descobre as corrupções dos irmãos Ançã, vice-reitor e prefeito que dominam a instituição, discorda da disciplina rígida do Seminário, insubordina-se – acaba por ser expulso.
Consciente da sua completa falta de vocação para a carreira eclesiástica, resolve-se, em meados de 1904, a regressar à Soutosa, enfrentando a ira, a zangada desilusão dos pais, que sonhavam já vê-lo ser ordenado, a receber a prima tonsura e a celebrar missa... Este conturbado período da sua adolescência será transformado em matéria ficcional, em alguns dos contos de Jardim das Tormentas e, principalmente, no romance A Via Sinuosa. É com essas recordações que dá início ao seu livro de memórias.
Fonte:artesaoocioso.blogs.sapo

3 comentários:

Alex disse...

Do aquilino Ribeiro escritor a obra é sobejamente conhecida.Retratou como poucos o espirito e vivência da beira naqueles tempos, numa linguagem acessivel a todos, ao contrário de muita da elite literária da altura.Mas além desta faceta, Aquilino era também um ideologo e activista.Ficou conhecido há uns tempos a renitência de alguns reacionários, como Aquilino lhe chamaria, de transladar Aquilino para o panteão nacional por supostamente ter participado no regicidio.Não tenho dados exactos, mas nao seria incongruente esta participação por um escritor que sempre teve forte consciencia social, se moveu nos circulos intelectuais comunistas e anarquistas e era um forte critico de todas as estruturas de repressão que na altura atormentavam a vida aos pobres da beira alta (veja-se a forte critica social do livro quando os lobos uivam, censurado pelo governo de Salazar).
Aquilino foi um grande homem, um grande escritor e, não deixemos de dize-lo, um revolucionário.
«Morro insatisfeito. A minha obra é imperfeita e bem o sinto. (…). Sei que estou a aproximar-me do ocaso. Mas, como os trabalhadores da minha serra, hei-de morrer com a enxada na mão.
(quando os lobos uivam, Aquilino Ribeiro).

Juvenal Nunes disse...


Permita-me um apontamento sobre a linguagem utilizada por Aquilino Ribeiro. É um facto que utiliza uma linguagem precisa, em tudo adequada aos assuntos a que se quer referir. É um autor de vocabulário rico,variado,prolixo e regionalista, recorrendo a vocábulos que nem sempre se encontram nos dicionários correntes. Para isso se especializou, é certo,mas só com recurso a dicionários de termos beirões é que se torna possível descortinar algumas palavras.
Tal constitui um distintivo do seu estilo inconfundível, e torna-o admirado pelo seus leitores mais fieis, verdadeiro mestre de língua muito acima dos seus pares.
Não sendo pernóstica como a raposa do romance, dificilmente a sua linguagem pode ser considerada acessível para todos.

Juvenal Nunes disse...


Permita-me um apontamento sobre a linguagem utilizada por Aquilino Ribeiro. É um facto que utiliza uma linguagem precisa, em tudo adequada aos assuntos a que se quer referir. É um autor de vocabulário rico,variado,prolixo e regionalista, recorrendo a vocábulos que nem sempre se encontram nos dicionários correntes. Para isso se especializou, é certo,mas só com recurso a dicionários de termos beirões é que se torna possível descortinar algumas palavras.
Tal constitui um distintivo do seu estilo inconfundível, e torna-o admirado pelo seus leitores mais fieis, verdadeiro mestre de língua muito acima dos seus pares.
Não sendo pernóstica como a raposa do romance, dificilmente a sua linguagem pode ser considerada acessível para todos.