segunda-feira, 13 de abril de 2009

Praça Pública - Semanal

Eu tenho medo da nossa Justiça «Ricardo Costa»

Confesso que tinha algumas saudades do ar cândido com que Souto Moura fala do que lhe acontece. Ele é uma espécie de José Peseiro da Justiça: boa pessoa, sério, incompreendido pelo povo e trucidado por uma equipa que não lhe obedece.

Tinha saudades mas curei-as. Alguém imagina um ex-procurador de um país normal a dizer que "segundo o meu irmão, os únicos condenados no 'caso Casa Pia' serão o Bibi e eu próprio"? Ninguém. Em Portugal isto acontece e pode ser verdade.

E será normal que um ex-procurador resuma o que correu mal no seu mandato a esta linda conta: 30% de limitações da "minha pessoa" (ele) e 70% de "interesses de pessoas com poder".

Esta afirmação é triplamente irresponsável. Primeiro, a "pessoa" de um procurador não justifica o desastre; segundo, um procurador não pode falar de "interesses de pessoas com poder" sem dizer quais são; terceiro, não há uma única palavra sobre erros, fugas, desvarios e desnorteios dos seus serviços.

O último ponto é o mais relevante. No 'caso Casa Pia', a Justiça fez quase tudo mal, agiu discricionariamente, com juízos pré-estabelecidos, deteve inocentes, investigou mal e descobriu uma ínfima parte da verdade. Para ser claro, foi incompetente no que interessava e falsamente corajosa no acessório e no erro.

No 'caso Freeport' começamos a ver os mesmos traços. Na semana passada Pinto Monteiro promoveu uma acareação entre procuradores por causa das pressões. Não sei se sou eu que estou demasiado sensível a estas coisas, mas alguém acha normal que se façam acareações públicas entre procuradores?

É claro que não é normal. Como não é normal que a Justiça troque o primo 'Monteiro' pelo primo 'Pinto de Sousa', como se fossem a mesma coisa, tentando mostrar que está na vanguarda de uma investigação em ziguezague. Espero estar enganado, mas penso que quando nos pedem para esquecermos o tio do Bentley e o primo do Tibete, a investigação está meio perdida e sem resultados.

Como é extraordinária a inépcia com que Alberto Costa, Lopes da Mota e afins brincam às pressões sobre a Justiça. Como se fosse tudo normal. Não é.

Tenho medo da Justiça. Tenho medo da incompetência e da discricionariedade. Da falta de prazos e resultados. De não se sancionar quem erra. Dos políticos que pressionam e dos procuradores que se queixam. Tenho medo que Pinto Monteiro dê uma entrevista sobre o Freeport a culpar a sua 'pessoa', a apontar interesses ocultos e a esquecer o que correu mal. Falta pouco. Fonte:Expresso

1 comentário:

Unknown disse...

Quando o Pinto da Costa nao é preso até eu fico com medo.