sábado, 6 de junho de 2009

Aquilino Ribeiro _ no Blogue [2]

LISBOA ATÉ AO REGICÍDIO - UM ESCRITOR CONFESSA-SE

Em 1906 muda-se para Lisboa, morando primeiro numa pensão da Rua do Crucifixo, depois na Rua das Pedras Negras e, finalmente, num quarto alugado na Rua do Carrião. Em Um Escritor Confessa-se, relata, com a mestria que caracteriza toda a sua obra, as peripécias por que passa um jovem provinciano na Lisboa do princípio do século XX. Tentando sustentar-se com o trabalho de escrita, começa a publicar os primeiros artigos em A Vanguarda, publicação dirigida por Sebastião de Magalhães Lima. Traduz Il Santo, de Fogazzaro, livro editado por José Bastos. Conhece Alfredo Luís da Costa, que virá a ser um dos regicidas, fundador de uma pequena editora (a Social Editora) que publicará A Filha do Jardineiro, romance a sair em «fascículos semanais de 30 réis», que Aquilino começa a escrever de parceria com José Augusto Ferreira da Silva. Este, que virá a ser ministro das Obras Públicas durante a I República, na transposição para a obra literária de Aquilino, dá corpo à personagem de Tomé da Silveira, do romance Lápides Partidas. O tal «romance histórico contemporâneo», que pretendia relatar a alegada sedução pelo rei D. Carlos, na sua juventude, da filha de um pobre jardineiro da Tapada da Ajuda, nunca passará do terceiro fascículo. Já em 1907, Aquilino é abordado no Rossio nem mais nem menos do que pelo fundador da Carbonária – Artur Augusto Duarte Luz de Almeida - Liga-se assim à Carbonária, braço armado da Maçonaria, Guarda no seu quarto da Rua do Carrião dois caixotes com cargas de TNT. Gonçalves Lopes, um professor do Liceu do Carmo e Belmonte de Lemos, um adelo da Rua dos Fanqueiros, ao manipularem os explosivos no quarto de Aquilino, provocam uma terrível explosão que vitima ambos. Aquilino sai ileso, mas é detido e levado para a esquadra do Caminho Novo, o cárcere mais severo do regime franquista. Em 12 de Janeiro de 1908, logra evadir-se da prisão, episódio que conta com magistral ironia e comicidade em Um Escritor Confessa-se. Segundo aí conta, vive escondido numas águas-furtadas da Rua Nova do Almada. Em 1 de Fevereiro, dá-se o Regicídio que vitima o rei D. Carlos e Luís Filipe, o príncipe-herdeiro. Aquilino é por muitos apontado como um dos elementos do grupo que atentou contra a família real, coisa que sempre negará. Em Maio vai até ao Entroncamento, onde toma o Sud-Express, viajando clandestinamente para Paris, onde irá viver durante seis anos.

«Todo o livro é percorrido por sinais que antecipam a visão de Cesário acerca da antinomia cidade/campo. De um modo geral, é o campo que sai exaltado no processo discursivo que organiza o material do discurso. É claro que a recusa da «civilização» citadina corresponde, algumas vezes, aos mecanismos republicanos que recusam servir o rei.» [...] «É inegável, porém, uma antipatia visceral pelo espaço urbano(«a cidade dormia o sono dos devassos», XXII), reiterada com insistência no poema XXIX:
Eis a velha cidade! a cortesã devassa,
a velha imperatriz da inércia e da cobiça,
não sendo arbitrária a permanência na estrofe seguinte dos significantes «lama» e «preguiça».»
Fonte:artesaoocioso.blogs.sapo

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