terça-feira, 30 de junho de 2009

«Crónica-Arqueologia» - A Barragem do Vilar e as pontes submersas

A Barragem do Vilar (inaugurada no dia 29 de Abril de 1965) tem sido importantíssima na estrutura energética não só do nosso concelho, mas também dos municípios de Sernancelhe e de Tabuaço.
Esta barragem origina uma albufeira que para além de organizar os caudais do rio Távora, também é utilizada para abastecer de água diversos municípios da região e, ao mesmo tempo, a Central Hidroeléctrica de Tabuaço (destinada à produção de energia hidroeléctrica).
Contudo, o alargamento da albufeira submergiu três imponentes pontes de granito que facilitavam a travessia deste rio: Ponte da Vila da Ponte, Pontigo de Freixinho e Ponte de Fonte Arcada (SANTOS: 2005 – Pontes de Portugal – Rumo ao Douro).
A Ponte de Fonte Arcada (também conhecida por Ponte do Vilar) seria românica e constituía especial referência por ser uma das maiores da região. Segundo o Abade Vasco Moreira (Terras da Beira, Cernancelhe e seu Alfoz, 1929), esta construção atingia 10,80 m de altura, 120,60 m de comprimento e 4,90 m de largura. Além disso estava classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 37 728 de 05 de Janeiro de 1950.
A ponte permitia a ligação directa entre as povoações do Vilar (concelho de Moimenta da Beira) e Fonte Arcada (concelho de Sernancelhe) sobre quatro arcos de volta inteira onde podiam observar-se inúmeras siglas.
O tabuleiro era de lançamento plano resguardado e os talha-mares (entre os arcos) eram angulares e encorpados. Os talha-mares, também conhecidos por contrafortes, servem para atenuar o choque das águas e facilitar o escoamento do curso de água.
Do ponto de vista histórico, o Abade V. Moreira regista que Tem este Rio tradições cavalheirescas e lendárias, muito favoráveis às armas cristãs. D. Afonso Henriques bateu os mouros, em 1140, junto de Fonte Arcada, quando tentavam embargar-lhe a passagem e às suas tropas, após a jornada de Trancoso.
Pinho Leal informa-nos também que, no contexto das Invasões Napoleónicas, os Franceses estiveram na Vila da Ponte durante cerca de três meses, impedidos de passar pelas forças aliadas, acabando por atravessar o Távora na Ponte de Fonte Arcada.
Como se pode verificar, estas pontes, devidamente protegidas, continuariam a ser uma referência importante para o desenvolvimento turístico-cultural desta região, tal como acontece com as pontes de São João de Tarouca, de Mondim da Beira, de Ucanha e de Vila Pouca de Salzedas no concelho de Tarouca.

Autor: José Carlos Santos

1 comentário:

Hugo Santos disse...

Grande artigo.

Parabéns.

É pena que obras como esta tenham desaparecido.

Abraço