quinta-feira, 16 de julho de 2009

«Crónica-Arqueologia» - Os Calhaus do Diabo

No dia 3 de Maio (do presente ano), e na companhia do Sr. Manuel Loureiro (natural de Moimenta da Beira), uma breve visita aos Calhaus do Diabo resultou numa das mais sensacionais descobertas arqueológicas tidas neste concelho – uma pedra em forma de raqueta (assim designada por quem a conhece).
Geograficamente, os Calhaus do Diabo situam-se a meia encosta (do lado esquerdo da ribeira de Nozedo, na freguesia de Leomil), expostos para o sítio do Penedo Gordo (freguesia de Moimenta da Beira).
Pese embora esta peça esculpida em granito tenha sido deslocada, é possível que originalmente estivesse posicionada verticalmente.
À semelhança das estelas medievais (que se destinavam a assinalar a presença de um enterramento, sendo colocadas em posição vertical, em regra, à cabeceira do túmulo e, excepcionalmente, aos pés), este monumento também termina superiormente num recorte semicircular (daí a forma de raqueta), com tamanho suficiente para ficar cravada no solo (pelo espigão ou haste a que a parte discóide se ligava). É curioso reparar que a peça, neste momento, possui o espigão quebrado assente sobre uma pequena pedra.
O achado mede cerca de 2 m de altura e é praticamente inédito no registo arqueológico concelhio. A zona discóide atinge aproximadamente 1,70 m de diâmetro (com uma espessura variável entre 0,40 m e 0,50 m) e apresenta três conjuntos de insculturas numa das faces.
Destinado a ser colocado verticalmente, este monumento tinha a particularidade de ser facilmente avistado a uma distância razoável devido à sua dimensão. Não descartando a possibilidade de sinalizar um túmulo, também poderá estar associado a cultos ancestrais, acontecimentos importantes da(s) comunidades(s) que se pretendiam perpetuar, marcos territoriais (sinais de orientação na paisagem), lugares de observação astronómica (relacionados eventualmente com a construção de calendários) ou espaços sagrados.
Além da dificuldade em determinar a sua tipologia, acrescente-se, ainda, que este monumento faz parte do património implantado em locais isolados e de difícil acesso, que se apresenta completamente desprotegido devido à ignorância sobre o seu valor histórico e arqueológico.
Contudo, não podemos esquecer que são as pedras misteriosas com gravuras (como esta) ou letras, assim como os cacos velhos e os vestígios de antigas construções que, devidamente musealizadas, interpretadas e sinalizadas, permitem compreender a história e o processo de povoamento da nossa região.

Autor: José Carlos Santos

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