quarta-feira, 29 de julho de 2009

Crónica "História da Nossa Terra" O solar de S. Domingos do Sarzedo

Recordo-me que há anos atrás no lançamento da minha monografia de Leomil, fui agradavelmente surpreendido com a presença dos actuais proprietários do solar de S. Domingos do Sarzedo. Esperavam encontrar na aludida publicação, a história das ligações deste solar à vila de Leomil, matéria que, entre muitas outras, não tratei.
Este belo solar situa-se à entrada da povoação do Sarzedo, outrora pertencente ao concelho de Leomil, na estrada nacional número 313 em direcção a Armamar. É imóvel classificado de interesse público desde 26 de Fevereiro de 1982 e a sua construção remonta à volta de 1523, altura em que Domingos Álvares Machado, ouvidor dos 4.os condes de Marialva, a terá mandado edificar. São já escassos os elementos arquitectónicos que atestam essa primitiva construção, porquanto as obras de remodelação foram uma realidade com o passar dos séculos, entre as quais aquela que terminou em 1724 foi uma das mais abrangentes. A construção é composta por vários corpos, incluindo o da capela, cuja articulação denuncia a evolução das diversas campanhas de obras.
Tal como alude a classificação do IPPAR, o corpo principal tem fachada a Oeste, dividida em dois panos de largura desigual, separados por pilastras. No primeiro pano, mais estreito, rasga-se o portal principal, apilastrado, com largo lintel ornamentado, encimado por cornija e larga pedra quadrangular embutida, com motivos ilegíveis. Por baixo de uma das janelas do segundo pano existe uma grande cruz pétrea, com calvário. Destacam-se ainda as molduras corridas sob a cornija que sustenta o beiral, particularmente o friso decorado com molduras intervaladas exibindo pontas de diamante, semelhantes às do lintel da porta. Na fachada Sul, de dois pisos, existe um balcão com guarda de ferro forjado sobre mísulas volutadas, barrocas. À fachada Este adossam-se vários corpos, incluindo o da cozinha, com escada exterior de acesso ao logradouro, e grande chaminé. Os restantes corpos têm dois e três pisos, sendo que quase todos os vãos possuem molduras simples de cantaria. O piso térreo, em jeito de loja, foi votado aos serviços de arrecadação.
No interior sobressai toda uma panóplia de elementos arquitectónicos e decorativos de interessante feição, como sejam a escadaria do átrio principal com corrimão de volutas e balcão em pedra de estilo barroco, ou os tectos de madeira com caixotões ornamentados, um dos quais comportando a data de 1724. A cozinha tem soalho lajeado, uma imponente chaminé apoiada em colunas, e uma larga mesa de pedra.
A capela, da invocação de São Domingos, remonta a 1523. Ergue-se a Este do conjunto, ligada ao corpo anexo por um passadiço assente em arcos. A entrada faz-se através de portal de moldura simples, sob frontão semi-circular interrompido, de feição maneirista. A fachada principal é iluminada por duas janelas rectangulares, rematada por cornija saliente e empena contracurvada, interrompida pela pedra armoriada dos Machados, Nápoles, Ferreiras e Almeidas, e encimada por cruz sobre base volutada, ao jeito barroco. Um documento em forma de mercê, emanado pela chancelaria de D. João V em 22 de Dezembro de 1742, reconhecia a fidalguia desta família e o registo das suas armas nos livros antigos de nobreza e fidalguia.
No interior destacam-se o largo e rico retábulo de talha dourada joanina, com a imagem do padroeiro, assim como os tectos em caixotões pintados da Capela e Sacristia, com cenas da vida da Virgem e Santos, entre outro tipo de decoração barroca.
A cercar este solar encontra-se ainda um remansoso logradouro com telheiro sobre pilares de pedra e jardins barrocos, na sucessão de tanques, canteiros de buxo, e vastos terrenos para cultivo.

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