sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Crónica "História da Nossa Terra"

Antigas fábricas da Vila da Rua

A seda é uma fibra proteica usada na indústria têxtil. Obtém-se a partir dos casulos do bicho-da-seda por um processo designado de sericicultura. O bicho-da-seda é criado aos milhares e alimenta-se de folhas, preferencialmente de Amoreira ou ração, ao longo de toda a sua fase de vida larvar. Ao fim de um período de pouco mais de um mês, a lagarta torna-se amarelada e começa a segregar um casulo onde se dará a metamorfose para o estado adulto (ímago). É esse casulo que serve de fonte para a seda. O processo de tecelagem da seda continua o mesmo nos dias de hoje. Na sericicultura, os casulos são mergulhados em água quente para liberar os filamentos da seda e matar a larva do bicho-da-seda. Os filamentos são combinados para formar fios, que são enrolados e finalmente secos.
Acredita-se que os chineses começaram a produzir seda por volta do ano 2.700 a.C. Reza a lenda que a Imperatriz Si Ling Chi descobriu a seda quando um casulo de bicho-da-seda caiu de uma amoreira dentro de sua xícara de chá. Depois de experimentar algumas vezes, ela conseguiu finalmente tecer o filamento da seda num pedaço de tecido.
Portugal permaneceu durante vários séculos um país pouco notável no que respeita à indústria da seda. Devido à falta de fiações nacionais era muito escassa a produção de tecidos. O que levou o nosso país a lançar-se nesta produção foi o acaso ocorrido um pouco por toda a Europa. Entre 1863 e 1872 uma doença atingiu o bicho-da-seda, causando enormes estragos na sericicultura. Uma vez que esta moléstia não atingiu Portugal, era a este país que a Europa recorria quando necessitava de comprar casulos e sementes, o que se fazia a preço três vezes mais caro.
A criação do bicho-da-seda conheceu, na Beira Alta, um progresso notável. Na Vila da Rua a família Cabral Pais criou uma empresa neste ramo que chegou produzir anualmente 600 kg de seda em rama e a exportar 250 a 300 kg de semente por ano. O seu produto foi muito admirado por sericultores estrangeiros que visitaram a sua fábrica. A produção da Cabral Pais Lda. obteve menção honrosa nas exposições de Londres e Paris, e foi recompensada com a medalha de honra e primeira medalha de prata nas exposições agrícolas nacionais de Lisboa. Ganhou ainda o primeiro prémio pecuniário na exposição realizada na cidade do Porto que se dedicou especificamente à seda.
Em 1869 esta fábrica veio a ser acrescentada com a integração de mais de vinte operários, para fazer face às necessidades do mercado e da procura. Como funcionava o sistema de produção desta fábrica? O trabalho era praticamente todo braçal e o sistema de fiação utilizado era o italiano.
Contudo, em 1872 também o sirgo português foi atacado, afugentando assim a concorrência estrangeira.
Esta família industrial distinguiu-se em vários campos. Francisco Cabral Pais, fez parte do conselho de Agricultura do distrito de Viseu. Foi este sujeito que, segundo informação de Pinho Leal, ofertou a este corógrafo 36 moedas antigas, entre as quais uma de prata, encontradas na Vila da Rua. Era irmão de António Cabral Pais que chegou a ser presidente da Câmara de Moimenta e encarregado da Estação Postal da Vila da Rua.
Por conseguinte, além da política, agricultura, indústria e informação arqueológica, esta família teve também na Vila da Rua um banco, distinguindo-se, portanto, no progresso económico da região.
Nesta localidade funcionou também uma fábrica de meias, com produção industrial, pertencente à família Leite que veio a emigrar para o Brasil. Era uma unidade industrial produtora de meias que necessitavam posteriormente de um acabamento manual. Assim, eram várias as senhoras que nesta localidade laboravam nesta tarefa, acabando, a partir de sua casa, o produto saído desta fábrica têxtil.

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