terça-feira, 27 de abril de 2010

«Arqueologia» - Sarcófagos: outra forma de enterramento

A partir do século XII, com o processo de consolidação da rede paroquial, recuperou-se uma prática funerária caída quase em desuso – a inumação em sarcófagos ou arcas funerárias.
No caso particular do concelho de Moimenta da Beira conhecem-se, até ao presente momento, dois sarcófagos em granito de forma não antropomórfica: um na povoação de Vide (freguesia de Rua) e outro em Segões.

O primeiro (imagem I) apresenta uma configuração rectangular e tem as seguintes dimensões: altura máxima – 0,60m; comprimento do leito – 1,91m; largura na zona da cabeça – 0,54m; largura na zona dos pés – 0,35m; profundidade média – 0,35m. Segundo o Sr. Emílio Mota (proprietário do local do achado), este sarcófago estava completamente abandonado e sem quaisquer vestígios da sua cobertura.

O segundo (imagem II) também se encontra em posse de particulares. Apresenta uma forma trapezoidal com os cantos arredondados, sem cobertura e tem as seguintes medidas: altura máxima – 0,45m; comprimento do leito – 1,83m; largura na zona da cabeça – 0,40m; largura na zona dos pés – 0,30m; profundidade média – 0,36m.
Dos dois, sabe-se que o primeiro foi descoberto no sítio da Laje de São João, a poucos metros do lado Noroeste da Capela de São João Baptista, tal como acontece com a grande maioria identificada no distrito de Viseu, que se encontra junto ou no interior de edifícios religiosos (capelas, ermidas, igrejas paroquiais, mosteiros, catedrais), e estará associado ao conjunto de seis sepulturas escavadas na rocha aí existente, provavelmente o restante de uma necrópole ainda mais numerosa. Quanto ao sarcófago de Segões, a escassez de dados não permitiu saber a sua proveniência.
Do ponto de vista construtivo, ambos exigiram tratamentos especiais, mesmo tratando-se de túmulos sem decoração.
Contudo, e à semelhança das sepulturas escavadas na rocha identificadas neste concelho, também estes elementos mantêm-se anónimos sem quaisquer informações acerca do indivíduo que outrora ali foi sepultado.
Aspecto a ter em conta porque só a partir do século XIII, o enterramento aparece personalizado com a gravação de inscrições e/ou representações heráldicas nas campas ou junto nas paredes dos edifícios religiosos, como é o caso da lápide sepulcral pertencente ao fundador do Convento Beneditino de Nossa Senhora da Purificação em Moimenta da Beira.
Em termos gerais, importa-nos concluir aqui que foram várias as formas de enterramento praticadas nesta região pelo menos a partir da Idade Média, em que coexistiram sepulturas escavadas na rocha e sarcófagos, assim como foram utilizadas estelas discóides na zona da cabeceira e tampas sepulcrais como cobertura, o que também tem sido muito importante para compreendermos a forma como são executados os enterramentos actuais.

Autor: José Carlos Santos

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