quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Filhos da Terra, Pais da República. Leomilenses no panorama republicano nacional, regional e local.

Sete dias depois de implantada a República reunia a autarquia moimentense, a título extraordinário, com o objectivo de deliberar sobre os últimos acontecimentos políticos. Deliberou o executivo, por unanimidade, aderir franca e lealmente à República, pondo-se à disposição do Sr. Administrador do concelho e comunicar essa decisão ao Presidente do Governo Provisório, ao Ministro do Interior e ao Governador Civil.

Noutra sessão extraordinária, presidida pelo Dr. José Antunes da Silva e Castro (viria a ser administrador do concelho) que aí se encontrava na companhia de muitos dos republicanos activos no concelho, vários elementos do povo e todos os funcionários municipais, foi escolhida, por aclamação, a Comissão Municipal Republicana para gerir os negócios da autarquia até ao aparecimento de uma corporação legalmente eleita pelo regime da República. Ficou constituída por: António Ferreira de Almeida; João de Almeida Galafura Carvalhais; David Rocha; Casimiro Martins; José de Almeida Leitão; Guilherme Bebiano; Domingos Portugal; D. José Coutinho de Lencastre; Joaquim Pinto; e Manuel Nina. Tomaram depois posse da mesa e procederam à eleição do presidente, por escrutínio secreto. Recaiu a escolha na figura de João de Almeida Galafura Carvalhais.

Prosseguiram os trabalhos, nesta sessão inaugural, e no fim, sob proposta da presidência deliberou-se ainda consignar um voto de louvor e agradecimento aos cidadãos da Vila de Leomil, “que há tantos annos e com a maior lealdade têm contribuído para o engrandecimento do Partido Republicano e para a difusão das ideias democráticas”.

A alusão a Leomil estava efectivamente relacionada com o forte núcleo republicano que se constituíra em redor de algumas famílias da vila, sendo crível que o triângulo maçónico que terá existido no concelho se localizasse aí.

Os proprietários do solar dos Coutinhos - Descendente de um dos ramos da família Coutinho a família Braga e Gomes, legítima proprietária do solar dos Coutinhos de Leomil, cedo se notabilizou como republicana. Sabe-se, inclusive, que encaixotou a pedra de armas que se encontra na confluência das fachadas do solar, como prova do repúdio pelos velhos títulos monárquicos da nobreza e fidalguia. A pedra de armas apenas ficou despojada do aludido caixote de madeira, quando o tempo apodreceu o material acarretando o seu auto-desmoronamento.

Além de republicanos, alguns elementos desta família eram afectos à maçonaria. Destacam-se as figuras de José Ribeiro Braga, avô da actual proprietária do solar, D. Maria Cândida Braga Guedes Gomes (a quem devo muitas das informações constantes aqui), conservador do Registo Predial da comarca de Lamego e mação; Joaquim Pereira Gomes, também avô da actual proprietária do solar, assim como seu filho Faustino Guedes Gomes, o qual foi membro do Conselho Municipal nos anos 40 e director e impulsionador do Jornal Voz de Leomil nos anos 80. Um derradeiro elemento desta família a relevar é Engrácia Ribeiro Braga. Republicana convicta, participou em comícios republicanos locais.

Família Paiva Gomes – Os irmãos Paiva Gomes que haveriam de se destacar como republicanos de gema, nasceram do enlace matrimonial entre José Gomes Ferreira Pinto (n. 18 de Setembro de 1840), proprietário e médico das câmaras de Vila Nova de Foz Côa, Trancoso e Moimenta da Beira, e da leomilense Maria Isabel de Paiva Gomes (n. 17 de Março de 1854). Tiveram sete filhos.

O investimento no progresso que esta família preconizou na sua terra foi particularmente evidente, nomeadamente através da fábrica da manteiga de Leomil e da empresa EAVT. As garridas cores com que decidiram pintar as suas camionetas, vermelho e verde, denunciam ainda as suas convicções republicanas.

Dos aludidos membros desta família, destaco, muito resumidamente, alguns. António de Paiva Gomes (1878-1939), desde logo. Médico de profissão iniciou a sua actividade profissional nas possessões coloniais portuguesas onde iniciou também e expandiu a sua actividade política. Aí chegou a fundar o jornal republicano O Incondicional e foi depois eleito presidente do Centro Republicano Couceiro da Costa, que chegou a ter 600 sócios. Foi deputado várias vezes, fazendo parte de todas as legislaturas até 1926, exceptuando a de Sidónio Pais, período em que esteve preso no forte de Elvas. Na Câmara dos Deputados integrou várias comissões parlamentares de Colónias, Finanças e Orçamento.

Foi ministro das Finanças (1919); ministro das Colónias por três vezes, entre 1920 e 1925, e integrou também o Conselho Superior das Colónias. Presidiu ao Conselho Superior da Administração Financeira do Estado (1924-1926) e ao Conselho Superior de Finanças. Foi senador do partido republicano a nível distrital e pertenceu, ainda, à Maçonaria, no seio da qual foi iniciado em 1904, na loja “Cruzeiro do Sul”, adoptando o nome de Câmara Pestana. Foi autor de várias obras redigidas entre 1909 e 1911.

Da família republicana Paiva Gomes merecem destaque, ainda, duas figuras. José de Paiva Gomes (1876-1933) militar distinto (alferes, depois tenente e coronel) e médico; governador-civil substituto do Porto (1911); chefe dos Serviços de Saúde de Timor (1920) e Governador interino de Timor (1921-1923). Ernesto de Paiva Gomes (1884-1967) foi empresário (proprietário da EAVT e da Fábrica da Manteiga de Leomil), tesoureiro da Fazenda Pública e tesoureiro interino da Câmara Municipal (1922). No seu escritório tinha um enorme busto da república, ao lado do qual figurava a bandeira a ele alusiva e com a qual foi sepultado. Foi um dos responsáveis pela vitória do general Humberto Delgado, em Leomil, nas eleições de 1958 (é avô do Sr. Prof. Doutor João Pedro Cunha Ribeiro a quem devo e agradeço algumas das informações aqui constantes).

Aos indivíduos referenciados acrescem muitas outras figuras e famílias que tiveram também uma intervenção destacada no panorama político local, regional e nacional, desde o primeiro modelo que a República parturiu até ao que hoje, cem anos depois vigora, encontrando-se esquecidas e ofuscadas por outras. Convirá proceder a esse exercício de rememoração!

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