segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

«Cultura» - Afonso Ribeiro, homenagem ao homem e à obra

É um dos expoentes da prosa de ficção neo-realista portuguesa que emergiu na década de 1930. Foi mesmo um dos seus precursores quando publica, em 1938, “Ilusão da Morte”. Afonso Ribeiro nasceu na Vila da Rua, Moimenta da Beira, a 7 de Janeiro de 1911 (m. 1993).

A homenagem ao homem e à obra vai ser prestada pela Câmara Municipal no centenário do seu nascimento. Serão dois dias (6 e 7 de Janeiro) de elogio ao escritor neo-realista, autor de dezena e meia de livros publicados ao longo de quase 50 anos de intenso labor literário.

Dia 6 de Janeiro, a partir das 14h30, na biblioteca municipal Aquilino Ribeiro, comunicações sobre o neo-realismo e Afonso Ribeiro, por professores do Agrupamento de Escolas e da Escola Profissional de Moimenta da Beira, na presença do presidente da autarquia, José Eduardo Ferreira, de representantes da Junta de Freguesia de Rua e de familiares do escritor.

Depois, leitura de extractos de textos das obras do homenageado, por Hélder Tavares, e um momento musical. A encerrar, inauguração da exposição sobre o neo-realismo.

Dia 7, dia do tributo maior, às 14h45, na Escola Profissional Tecnológica e Agrária de Moimenta da Beira, conferências evocativas da vida e obra do escritor, por Luís Crespo de Andrade, professor da Faculdade de Letras da Universidade Nova de Lisboa; Fernando Magalhães, jornalista da RTP que privou de perto em Moçambique com Afonso Ribeiro; e Manuel Rodrigues Vaz, também jornalista. Modera a conferência Alcides Sarmento, professor, natural da Vila da Rua. O dia fecha com uma merenda serrana e o descerramento de uma placa evocativa na casa onde o escritor nasceu.

Fonte: CM Moimenta da Beira

1 comentário:

Alex disse...

Grande homenagem a um escritor superior...Eu não sou bairrista nem defensor acéfalo da cultura beirã etc, mas este senhor transcendeu qualquer tipo de regionalismo. A sua obra foi politicamente relevante, não deixando de ser interessante ver os grandes senhores da politica conservadora, ou das grandes famílias que já no seu tempo exerciam influencia no terreno e no povo, rejubilarem com este símbolo beirão marcadamente radical no seu pensamento e acção. (seja pela pertença ao ramo anarquista da carbonária que teve envolvimento no regicidio, como pela critica social sempre presente). Um excerto delicioso:

" - A seu ver, o mundo andava torto, uns tinham muito e outros não tinham nada; uns morriam à fome e outros de indigestão. Mas, verdade seja, que não aconselhava ninguém a usar da violência. Quanto a ser herege, toda a gente sabe que não vai à missa nem se confessa. Mas não é homem para atirar uma pedra a um gato...
- Nunca lhe ouviu dizer que a religião era uma impostura e os padres os funcionários desta impostura?
- Não, senhor.
- Pois está-lhe imputado nos autos - proferiu batendo no imenso bacamarte do processo. - Mas se lho ouviu, acha que destoa tal dito na boca do réu?
Bruno Lêndeas torceu-se, esboçou um esgar, e acabou por dizer:
- Não, senhor.
- Muito bem! E este outro dito: Cristo nasceu nas palhas, para nos mostrar que somos todos iguais. Que sociedade é esta onde uns têm tudo e outros não têm nada? - ouviu-lhe?
- Também não, senhor.
- Sabe se lia certos autores condenados pelo bom senso, o Estado, e a tradição religiosa, como Lenine, Karl Marx...?
- De Carlos Marques não sei. De Carlos Magnus vi-lhe o alfarrábio na mão.
Os senhores juízes soltaram-lhe uma gargalhada estrepitosa, menos ao alegre desenfado do que para confirmação de suas conspícuas inteligências. O representante do Ministério Público dobrou a cabeça, encantado:
- Estou satisfeito.

Aquilino Ribeiro (1958). Quando os lobos uivam. Lisboa: Bertrand. pp. 299-300.