terça-feira, 19 de junho de 2012

«Arqueologia» - A recuperação da fonte de mergulho das Fontainhas


           
           

                          I. Antes da intervenção                                II. Após a intervenção
Fonte de mergulho
Localização: Largo das Fontainhas, Moimenta da Beira

Os recentes trabalhos de recuperação de mais uma fonte de mergulho existente na vila de Moimenta da Beira, nomeadamente no Largo das Fontainhas[1], por parte da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal, espelham bem a preocupação que estas edilidades têm tido no que respeita à valorização do património local.
Como é bem de ver, anteriormente, em consequência do seu abandono[2] (não se sabe exactamente quando), o arco da fonte encontrava-se obliterado por pedras, permanecendo aparentemente despercebido no muro de uma casa de habitação.
Com efeito, graças a esta intervenção, foi possível devolver-lhe novamente a forma original, tendo-se essencialmente retirado as pedras que impediam a visibilidade e a utilização do interior[3], melhorando as suas paredes, corrigindo especialmente o pavimento (do espaço que lhe dá acesso e reveste a respectiva drenagem) com calçada à portuguesa e respeitando a cobertura do corgo das Fontainhas que ali passa sob o patim da casa de habitação.
Hoje temos assim à vista mais um recanto de belo efeito em Moimenta da Beira, semelhante, ao nível da concepção arquitectónica, a uma das fontes da Corujeira: planta quadrangular (com aproximadamente 1,70 m de altura e 3 m de largura), volumetria cúbica com abertura em arco de volta perfeita, no qual foi gravada uma cruz (clara manifestação religiosa), prolongando-se internamente numa abóbada de berço e um pio escavado (que atinge 1,05 m de profundidade), onde a água ainda remanesce com fartura.

                    

[1] A abundância de água neste lugar proporcionou a edificação de duas fontes, nomeadamente esta de mergulho e outra com bica e tanque, daí o nome Fontainhas.
[2] Cronologicamente existem referências da utilização deste tipo de fontes, também conhecidas por fontes de chafurdo, pelo menos desde a Baixa Idade Média. Durante muito tempo, revelaram-se de grande importância na vida diária da comunidade quer materialmente pelo indispensável abastecimento de água, quer do ponto de vista social, enquanto local de convivência. O seu abandono deveu-se, contudo, ao uso comum, ou seja, à manifesta falta de higiene resultante de as pessoas mergulharem os recipientes (cântaros e vasilhas de barro ou de latão) directamente na água, daí o nome fonte de mergulho. Por serem consideradas um perigo para a saúde pública, como uma das causas da propagação de doenças, deram lugar aos chafarizes/fontanários com água canalizada e mais recentemente à construção da rede pública de abastecimento de água ao domicílio.
[3] Dada a profundidade do pio, decidiu-se colocar uma vedação metálica como prevenção.

Autor: José Carlos Santos

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