quinta-feira, 2 de agosto de 2012

«Arqueologia» - Ponte e torre de Ucanha, conjunto arquitetónico único no país


Ponte e torre de Ucanha
Classificado Monumento Nacional em 1910,
tem beneficiado de diversas intervenções de restauro por parte da
Direção Geral dos Edifícios e dos Monumentos Nacionais
e encontra-se interdito ao trânsito veiculado desde 1986.

Sobre o rio Varosa, a ligar os antigos núcleos de Ucanha e de Gouviães (ambas freguesias[1] do concelho de Tarouca), descobrimos um conjunto arquitetónico medieval[2] considerado único no país: uma ponte de tabuleiro[3] em cavalete, sobre quatro arcos[4] quebrados, elegantemente associada a uma possante torre[5], edificada essencialmente com propósitos defensivos, protegendo a entrada do antigo couto monástico de Salzedas, e económicos, permitindo garantir uma eficaz cobrança de direitos de portagem[6] instituídos pela autorização de entrada no mesmo e pela travessia do rio.

Publicado no Jornal Beirão (87.ª edição)



           [1] Estas povoações ter-se-ão organizado ao longo do arruamento que parte da ponte, concordante, na opinião de alguns autores, com uma anterior via romana.
[2] A primeira configuração deste monumento é atribuída por alguns investigadores a Egas Moniz, senhor de vastos domínios nesta região durante o século XII, ou a D. Teresa Afonso, sua esposa. Contudo, de acordo com uma epígrafe aí gravada, o conjunto patrimonial que hoje vemos remontará ao ano de 1465 e é da autoria de D. Fernando, Abade de Salzedas.
[3] O tabuleiro é resguardado por um parapeito de duas fileiras de silhares com cerca de 76 m de comprimento e 3,65 m de largura. O ponto mais alto da ponte ultrapassa os 12 m. 
[4] De diferentes dimensões e com inúmeras siglas gravadas, o arco central é o mais alto e o de maior largura, onde ainda são visíveis os agulheiros no seu intradorso (orifícios que serviram para colocar os suportes de madeira – cambotas – na construção do arco), reforçado a montante por talha-mares triangulares.
[5] Situa-se na margem direita do rio, muito próxima da Igreja Matriz de Ucanha. É de secção quadrangular com cobertura de quatro águas, ultrapassando os 17 m de altura. Nas suas quatro faces, cada uma medindo aproximadamente 10 m de largura, aparece reforçada por balcões de matacães axiais ao nível do derradeiro andar. Ao nível intermédio, nas fachadas a poente e a nascente, rasgam-se janelas geminadas. No alçado Norte tem passagem em arco pleno seguido de um túnel abobadado que funciona como porta quer do burgo quer da ponte. Do lado da povoação, o arco surge encimado por um nicho, com a imagem de Nossa Senhora, ladeado por uma inscrição. A porta de acesso ao interior da torre, em arco quebrado, surge no alçado Sul, ao nível do segundo piso. Em cada um dos três pisos encontramos um compartimento amplo, sendo o acesso ao andar superior feito por uma escadaria.
[6] Documentos de 1315 e 1318 determinam a obrigatoriedade da passagem na ponte e o pagamento da respetiva portagem, prática que acabou por ser extinta em 1504 no reinado de D. Manuel I. 

Autor: José Carlos Santos

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