quarta-feira, 29 de maio de 2013

«Arqueologia» - Alvite, Espinheiro, Porto da Nave e Quinta dos Caetanos



Estátua-menir da Nave

Trata-se de um monumento não tumular destinado a ser fixado verticalmente no solo. Cronologicamente insere-se no fenómeno megalítico, provavelmente na transição do III.º para o II.º milénio antes de Cristo (Calcolítico/Idade do Bronze) e devido à sua configuração humana e fálica, estará intimamente associado ao culto da fecundidade, do Homem e da Natureza.
Mede aproximadamente 2,33m de altura e 0,49/0,55m de largura (faces). Os lados medem respetivamente 0,38/0,24m (esquerdo) e 0,36/0,23m (direito). A face anterior e os lados são insculturados e a base encontra-se fragmentada.
Considerando a sua magnífica qualidade e importância patrimonial face à raridade deste tipo de esculturas no Norte e Centro do território nacional, é urgente a sua preservação.

Pelo vasto planalto da Nave recuamos até aos primórdios da presença humana na região, onde as comunidades pré-históricas quiseram especialmente enterrar os seus mortos, edificando, a cotas acima dos 900 metros de altitude, menires e imponentes túmulos conhecidos por antas, dólmenes ou popularmente por orcas. Particular destaque para a estátua-menir (que se pode ver na imagem), encontrada em 1999, pelo Dr. Domingos Cruz, no sítio do Trogal[1].
Contrastando com as povoações do vale, encontramos Alvite (que, no século XII, já era uma granja do mosteiro cisterciense de São João de Tarouca e, mais tarde, integrou os concelhos de Mondim, Sever e Leomil, os quais, entretanto, em consequência de sucessivas reorganizações territoriais, acabaram por ser abolidos), Espinheiro, Quinta dos Caetanos e Porto da Nave, povos de costumes arreigados que hoje, administrativamente agregados, constituem uma das freguesias mais populosas do município de Moimenta da Beira. Conhecida particularmente por um vocabulário muito próprio e ainda pelo uso da típica capucha de burel (espécie de capa), as suas principais atividades são a agricultura (onde abunda sobretudo o cereal), a pastorícia e o comércio e alguns dos seus momentos altos durante o ano são as festas do padroeiro Santo Amaro no dia 15 de Janeiro e de Nossa Senhora das Queimas no dia 15 de Agosto.


Outros sítios arqueológicos identificados na freguesia:

Identificação, localização, tipologia, implantação, altitude em metros
Orca de Alvite, Alvite, dólmen de corredor, relevo baixo, 905m.
Sítio Nabo à Carreira, Espinheiro, tumulus[2] baixo/dólmen simples (?), depressão ampla, 935m.
Sítio ao Madeiro, Espinheiro, tumulus muito baixo, depressão ampla, 960m.
Chão Cimeiro, Espinheiro, tumulus muito baixo, cumeada, 955m.
Torrão I, Porto da Nave, tumulus elevado/dólmen simples, colo, 950m.
Torrão II, Porto da Nave, tumulus baixo, colo, 950m.
Torrão III, Porto da Nave, tumulus baixo, vale de montanha, 950m.
Quinta dos Caetanos, Quinta dos Caetanos, tumulus elevado/dólmen de corredor, vale de montanha, 934m.

Publicado no Jornal Beirão (103.ª edição)
Autor: José Carlos Santos



[1] A cerca de dois quilómetros, a Sul/Sudeste da povoação de Alvite. Atualmente encontra-se desprotegida a poucos metros da capela da Quinta dos Caetanos.
[2] Montículo artificial, composto por terra e/ou pedras, que envolvia e cobria as sepulturas megalíticas.

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