sexta-feira, 28 de junho de 2013

«Arqueologia» - ARIZ





Fragmento de uma estela de granito, com cerca de 50 cm de altura, 45 cm de largura e 20 cm de espessura, aplicado numa das paredes de um edifício rústico, na Rua Sede da Junta.
A preocupação do embelezamento é nítida na parte superior, onde foram gravadas duas rosáceas paralelas. O campo epigráfico, rebaixado e incluído numa moldura em filete e meia cana, contém a fórmula inicial de invocação aos Deuses Manes: D . (is)  M . (anibus) S . (acrum), divindades protetoras a quem, a partir de meados do século I depois de Cristo (sobretudo na Península Ibérica), os túmulos passaram a ser consagrados, mediante adequada cerimónia. A estrutura textual da inscrição revela ainda a identificação e filiação de dois defuntos, e as idades com que morreram: RVFINO RVFI . ANN XV (Rufino, filho de Rufo, de quinze anos) ET . RVFO RVFINI . ANN XXX (e Rufo, filho de Rufino, de trinta anos), traduzindo-se assim:
Consagração aos Deuses Manes. Rufino, filho de Rufo, de quinze anos e Rufo, filho de Rufino, de trinta anos.
A ausência da parte inferior impede a reconstituição total da respetiva inscrição, omitindo a identificação da(s) pessoa(s) que mandou (ou mandaram) fazer a memória, a fórmula final «aqui jaz» (H. S. E. = Hic Situs Est) e o voto «que a terra te seja leve!» (S. V. T. L.= Sit Vobis Terra Levis).
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Os vestígios arqueológicos mais antigos identificados nesta povoação, que até ao ano de 1834 pertenceu ao concelho de Pêra Velha[1], remontam ao III.º milénio antes de Cristo e encontram-se em posição sobranceira à ribeira dos Cubos[2], no amuralhado Povoado do Castelo, um dos monumentos que se podem visitar através do Circuito Pré-Histórico do Planalto da Nave, mas cabe aqui destacar igualmente os de tempos posteriores, particularmente, ainda que incompleta, uma lápide em memória de dois defuntos que o Senhor Afonso Basílio simpaticamente nos revela através da presente imagem; as sepulturas escavadas na rocha[3], no sítio dos Penedos (entre o casario antigo) e no lugar da Fonte dos Lobos (próximo da Igreja de São Miguel[4]); e o património edificado moderno, bem representado pela igreja oitocentista, pela ponte[5] em cavalete, de dois arcos de volta perfeita (um mais aberto do que o outro), sobre o rio Paiva, considerada uma das mais bonitas da região, e pelas diversas construções rurais, nomeadamente moinhos de água e espigueiros, algumas delas ainda em funcionamento.

Publicado no Jornal Beirão (105.ª edição)




[1] Hoje freguesia do município de Moimenta da Beira.
[2] Afluente da margem direita do Paiva.
[3] Uma das formas de enterramento praticadas durante a Idade Média.
[4] Também conhecida por Igreja Velha e da qual apenas restam os alicerces.
[5]Uma obra, provavelmente moderna, que exterioriza esteticamente bem a sua funcionalidade pública, atingindo 45 m de comprimento, 4,50 m de largura e 5,20 m de altura.

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